O Rio de Janeiro continua lindo. E como toda metrópole, tem alguns segredos guardados, muitas vezes mais conhecidos pelos turistas do que pelos próprios brasileiros. Um destes segredos está ali, entre a Lapa e Santa Tereza, região do centro, famosa pelo antigo Aqueduto da Carioca, inaugurado em 1750, hoje conhecido como Arcos da Lapa, que é percorrido por um bondinho, também ele reminiscência de tempos em que se amarrava cachorro com lingüiça.
Pois ali, encravado em uma área onde é tão fácil encontrar turistas quanto no aeroporto, se esconde a Escadaria Selarón. Tudo bem se você nunca ouviu falar dela, e nem sabe o que é esse tal de Selarón. Na verdade, Selarón é o nome de um chileno daqueles “malucos-beleza”. Artista plástico que rodava o mundo, se encantou com a boêmia da Lapa, e aqui ficou. Como não tinha muito o que fazer, mas a criatividade estava mil, começou a transformar banheiras em jardineiras, ao redor de uma escadaria que leva ao convento de Santa Teresa. Bonitinho, mas não deu ibope. Aí ele começou a revestir os 215 degraus da escada com azulejos. Sim, 215 degraus!
Como o lugar é point de descolados, bacaninhas e diferentes de todo o mundo, Selarón fez fama e virou ponto turístico. Muitos dos azulejos foram feitos por ele, com técnica de cerâmica, mas outros vieram de todos os lugares do globo. Encontrei azulejos portugueses, americanos, gregos, italianos, japoneses, russos, australianos e até seilaoques (uma língua esquisita, não entendi nada…) .
Selaron, de chapéu e bermuda vermelha, dando entrevistas.
A escadaria tem duas áreas bem definidas. A central é predominantemente verde-amarela, uma homenagem a pátria adotiva. As laterais são vermelhas, mesma cor das bermudas, sandálias e bicicleta que o artista bigodudo sempre usa. Coisa de artista.
Banheiras-floreiras cobertos de azulejos.
É bonito lá, mas o mais incrível é imaginar o poder de transformação que um único homem é capaz de ter. É lógico que nós também temos este poder, ainda que não nos demos conta. Um único homem, com paciência, boa vontade, trabalho e uma idéia simples, se transformou, não só em uma atração turística em um lugar cheio de atrações como o Rio, como em uma referência mundial. E nós, será que não conseguimos fazer o mesmo? Nos transformarmos em uma referência ao menos para quem está próximo de nós? Pausa para a reflexão.