Cada vez que entro em uma aldeia aprendo mais e me impressiono com os hábitos, por vezes tão distintos dos nossos. Vivemos tão perto mas ao mesmo tempo tão distantes… e esta é somente uma das centenas de etnias do Brasil… somos mesmo uma sociedade muito misturada. Só devemos lembrar sempre que todos tem que ter o seu espaço, pois cabe todo mundo no Brasil, ou, como diz um grande amigo: “olho pro tamanho do planeta e vejo que ele é tão grande, grande demais. Tem lugar para tudo mundo viver sua vida e viver em paz…”
Eu já sabia que as viúvas raspam a cabeça quando seus maridos morrem. Hoje atendi uma que, além de careca estava sussurrando. Aprendi que as mulheres – e na verdade isso também vale para os maridos que enviúvam – devem se manter contidos em tudo durante o período de luto. Isso significa, além de raspar os cabelos, falar somente sussurando, não participar de festas e nem mesmo se pintar até os cabelos voltarem a crescer totalmente, que é quando termina oficialmente o luto.
Esta semana também estava acontecendo a festa da mandioca em Gorotire.Com a minha chegada o “dono da festa” interrompeu a comemoração – mais uma vez eu fico sem ver uma festa – para que todo mundo pudesse ir a consulta e para que ele pudesse pegar mais mandioca. Esta festa é assim: de dia todo mundo de se enfeita e dança, os homens se exibindo para as mulheres e vice-versa. Os homens solteiros só podem dançar com as mulheres casadas, e os casados só com as solteiras.
De noite a festa continua mas sem muita dança, apenas os casais vão dançar a dois e “namorar”. O Bedjara, um dos agentes de saúde indígenas que trabalha comigo estava me ajudando. Aí eu perguntei para ele. “Então se você dançar com uma menina e namorar ela sua esposa não vai ficar brava?” Ele respondeu: “Não pode, porque é tradição.” E eu insisti: “E se ela namorar com outro, você não fica bravo?”. E ele: “Eu fico com ciúme, mas não fico bravo porque é a tradição”. Cada um é cada um, tem muito kubem (branco) que iria adorar uma festa assim…
Alguns jovens que estavam na porta do posto de saúde, depois da “rebarba” da festa.