Visito a Fazenda Perfeição, abandonada por seus antigos proprietários e hoje ocupada por uma família macuxi que cuida do gado.
A fazenda era modelo, grande, bonita, com grandes mangueiras que oferecem sombra generosa, inclusive para a pequena lápide onde repousa um anjo. Miladir, nosso motorista nos informa: “o fazendeiro sempre tinha uma mesa servida para convidados, com leite, pão, coalhada e bolo”.
Hoje na entrada da casa o cheiro não é de bolo, mas da rês recém-abatida e me embrulha o estômago. Da cabeça, apoiada na parede, escorre sangue lambido por dois bacorinhos (filhotes de porco). A pele, jogada num canto, murcha e ainda com a cauda, parece – e é – uma veste recém-despida. Os cascos estão encostados em outra parede, o rumen, aberto, expõe a última alimentação e as tripas, em uma bacia, alimentam as moscas. O animal está dividido, mas seu cheiro espalhado por todos os lugares. Respiro raso (impossível respirar fundo) e rezo. Atendo o paciente com toda atenção possível. Na varanda, deitados pelo chão e pelas poucas cadeiras, os indígenas se espalham. Chega uma gestante, pés no chão e dentes pretos, olhar felino pintado como em Caminho das Índias. Sou visto com indiferença, mas tendo absorver cada detalhe da cena da Fazenda Perfeição.
O que pensar? Não sei até agora. Não faço julgamentos, não sou juiz. Só sei que é assim. E assim vivem.
Sobre a Fazenda Perfeição : Para os que não tem a informação correta e ficam falando besteira ,seus donos não abandonaram,foram obrigados a deixarem suas vidas para trás e seguirem outro patamar, porque depois de quatro gerações criadas naquelas terras e ensinadas a viver daquilo, todos tiveram que arrumar suas malas e se virar pra tirar tudo dali .Retirados dali pela demarcação indígena, pra ficar do jeito que você comenta aí.