Fugindo do verde que parece deslocado no coração da metrópole, entro em uma galeria. Onde estou? Não entendo nada que falam e pouco entendem quando pergunto. Só nos entendemos quando mostro dinheiro. Descubro que coreanos e chineses são gênios que atendem todos desejos. Você nem precisa esfregar a lâmpada. Basta esfregar as notas. E aqui não são apenas três desejos, mas quantos você quiser: tablets, câmeras, netbooks, perfumes, celulares, tênis, filmadoras – desde que possa pagar.
Paulista, avenida mais cosmopolita do Brasil. Novamente me descubro em outro mundo. Passa um gay fortão com um pit-bull de focinheira. Sigo uma japonesa com as costas tatuadas. Punks e freiras, emos e negros, orientais e mendigos, travestis e engravatados, grávidas e skatistas, maratonistas e dondocas, velhos e gringos, estão todos aqui.
Na calçada assisto um show de rock pelo valor que me dispor a colocar em um chapéu. O cara é bom. Melhor do que os hare krishnas esforçados, mas desafinados que vendem incensos e livros. Sigo adiante. Um gritador-evangélico fala de Deus à multidão que passa. Ninguém escuta, ainda que uma imóvel estátua-humana teime em dar atenção ao discurso. E nem pisca. Perto, a televisão japonesa filma um repórter que conta da pobre cidade milionária onde pessoas dormem nas ruas, ou talvez do que acontece no coração quando a gente cruza a Ipiranga e a avenida São João.
Os Hare-Krishnas e o roqueiro. O celular se recusou a fotografar o “gritador”.
Este post faz parte das Impressões Integrais 79