Vista Aérea do Encontro das Águas
Vemos o mundo com outros olhos quando o enxergamos do céu, e nessas horas queremos ser ave. A pequenez de certas coisas enormes nos faz aves e gigantes, tal qual o mitológico Roc. A beleza moldada por Deus nos impressiona e as transformações causadas por nós nos fazem oscilar entre a fascinação do sonho e a do horror do concreto.
Uma das vistas aéreas mais impressionantes é a do Encontro das Águas em Manaus. O rio Negro, colosso de ébano que vem da região encachoeirada de São Gabriel se abraça ao monstruoso Solimões, gólem de barro que desliza lentamente pela bacia amazônica,depois de nascer nas montanhas dos Andes. Juntos, após medirem por quilômetros, já sem forças e sem um vitorioso se acabam em um abraço sem fim que forma o oceano que é o rio Amazonas.
Aldeia Flexal – Relato da minha primeira viagem a Terra Indígena Raposa Serra do Sol – julho de 2009
Este é meu primeiro vôo em Roraima. São noventa minutos de monomotor para resgatar uma criança grave em na aldeia Flexal, município de Uiramutã. Vocês sabem que eu adoro viajar. E há muito tempo queria conhecer a região dos campos de Roraima, envolvido na disputa de índios e arrozeiros, repleta de rios, salpicada de lagos e coberta com uma vegetação baixa, o lavrado, onde vivem aves aquáticas e o cavalo lavradeiro, o único cavalo selvagem sul-americano.
O vôo é um deslumbre. É uma pena que a janela do avião tire um pouco as cores, e uma tristeza que com mil palavras eu não possa descrever a beleza da região, a mais bonita em que já voei. Tentei mostrar o que vi em cerca de 200 fotos, mas elas não dão idéia da amplitude, da grandeza, do todo. Por isso já dizia o poeta “para ser grande, sê inteiro”.
Levantamos vôo já sobrevoando a boa vista do rio Branco, maior que a cidade que cresce as suas margens. Depois vem o lavrado. Um tapete verde claro, recortado por rios que riscam longas listas com o verde escuro de suas margens repletas de buritizais e preenchido, nesta época, por lagos, lagunas, laguinhos e lagões, que refletem o sol da manhã formando um lindo mosaico esculpido por Deus.
Não há cidades , mas vejo uma casa aqui, outra ali. Uma pequena aldeia, com 4 ou 5 casas. Novamente o nada e mais uma casa. Casa no meio do nada. Me pego pensando em quem mora ali, como se mora ali e como deve ser viver, ou melhor, sobreviver, sem tudo que conhecemos… sem energia, sem celular, sem farmácia, sem sorvete… Apenas a casinha, na beira de uma serra que deve garantir ao mesmo tempo o mercado, a farmácia e o material de construção. Os avós de nossos avós deviam saber ler este “manual da natureza”, que nós nem sonhamos conhecer.
A interferência humana logo chega, desviando rios, traçando estradas. Está lá. As plantações de arroz. Não vou entrar na polêmica do que o General Heleno não conseguiu vislumbrar, mas só lembro que o indígena, fora de sua terra, não é mais ninguém, se torna alguém a margem da sociedade. Um pária engrossando as fileiras dos miseráveis, e que vive em um mundo interno diferente: outra língua, outros costumes, outras tradições, que impedem que seja “somente” um miserável.
Mas o vôo está lindo demais para que as reflexões sejam tão sombrias. O plano logo se desfaz. Pequenas elevações aqui e ali, e ao longe serras, que um pouco além (não cheguei lá) formam o famoso Monte Roraima. Parece o Google Earth, mas é real.
De cada serra escorrem rios cor de prata, ora passeando por entre pedras, ora caindo livres, como na imensa Cachoeira do Tamanduá, com desnível e volume de água grande suficiente para no seu futuro estar uma hidrelétrica.
Aos poucos vejo um grupo maior de casas que aumentam de tamanho a medida que baixamos de altitude e logo mostram a primeira aldeia Macuxi que visito.
A tal da “criança grave”, na verdade não está tão mal assim, o que dá tranqüilidade, e aproveito para conversar um pouco com o Agente de Saúde, que me mostra o posto de saúde, a escola e… em meio as pouco mais de vinte casas, perdidas no meio da serra, uma “avenida comercial”. Lado a lado as casas anunciam com pinturas sobre o barro aparente: “TEMOS: café, trigo, açúcar, arroz, óleo de c., biscoito d. s.” na primeira; “se vende bombom, cigarros e chicletes. Se vende cerveja” na segunda, e “Restaurante.Armada”, em meio a pinturas tradicionais na terceira. Me dou conta que a pequena aldeia já tem seu mercadinho, bar e restaurante.
Infelizmente não podia conhecer melhor o lugar. O avião já estava rodeado de crianças, que acenavam para nós na hora da despedida. A volta foi rápida, e não tão romântica. Estava de olho no pequeno paciente, e as serras mal se despediram de mim e logo já vi o rio Branco. Agradeci mais uma vez. A Deus e a minha amiga Adelma, Secretária de Saúde, pois como diz a máxima chinesa: “Escolha um trabalho que você ama fazer, e assim não terá de trabalhar um único dia de sua vida”.
Mais de Nomes
A gente sempre se surpreende com os nomes Yanomami. Atendi duas índias recentemente com nomes diferentes: Lamparina, Cheiroso e Alfacia. Para nós soa bizarro, mas para eles são sons bonitos que podem, por exemplo, se assemelhar a palavras tais como vento, amor ou arco-íris em seu idioma. Quando escolhemos o nome de nossos filhos dificilmente pensamos no significado, não é mesmo? Afinal, quem sabe que Yan, em chinês quer dize prata? E que Lívia significa “pálida”? E Jussara é o nome de uma abelha?
Assim, sem preconceito, descubro lendo em Comer, Rezar, Amar (veja em Impressões do que eu Li, no blog) que em Bali, na Indonésia, a maioria das pessoas tem apenas quatro nomes: Wayan, Made, Nyoman e Ketut, que significam respectivamente Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto. Estes nomes valem para ambos os sexos e a partir do quinto filho a contagem recomeça. É tão simples que fica complicado, não?
Para finalizar as histórias de nomes, hoje fui interrompido em minhas consultas por um médico que vem com um nome escrito em um papel: ULTON. Pede para eu dizer como se pronuncia o nome e eu li o que me parecia óbvio: Ulton. Não… se pronuncia Ueleton!
Dpois dssa.. fui!!
Abraços e beijos,
Altamiro
Gostei! Obrigado pelo e-mail. Abraço
Waldir
Fantástico!
Esse Brasil é BEM maior do que a gente pensa!
Ricardo Coelho dos Santos
BOA NOITE, ALTAMIRO!
QUE PRESENTAÇO PARA UM FIM DE NOITE.
TENHA UMA ÓTIMA NOITE E UMA ÓTIMA QUINTA-FEIRA.
OBRIGADA, CAMARADA.
UM ABRAÇÃO,
ANA
Muito legal, como sempre.
Beijos grandes
Carmen
Olá Altamiro, como é delicioso e super interessante as suas impressões de lugares que só em sonho consigo ver.
Adorei o proverbio chinês e acho que êle tem tudo de verdadeiro, vejo vc, mesmo trabalhando muito.
Um grande abraço, muita saude e muitas viagens.
Cristina
Adooooro tudo isto!!! Obrigada por partilhar. As fotos estão sensacionais! A dos cavalos, então! Amei..
Maria Lucia
Oi sobrinho querido!
Adorei essas impressões… ri com as histórias dos nomes e achei o seu relato muito interessante. Com voce, tbem conheço um pouco de regiões tão desconhecidas para mim. Bjs, Tia Isolda
Obrigada por continuar enviando estas maravilhas da nossa terra…
Beijinhos.
Rosana
Altamiro,
Fico cada vez mais impressionada com suas histórias e fico me perguntando “que País é esse?” que parecer conter vários “brasis” em um só Brasil. Quantas realidades diferentes, quantas experiências impressionantes que nos levam a refletir sobre o que realmente tem valor nessa vida. Agradeço por ter me incluído em sua lista de contatos e principalmente por me considerar como “amiga”. É um privilégio para mim!
Obrigada e que Deus te acompanhe em sua missão nessa terra tão linda!
Abraços.
Maria José Foeger
amigo da paz altamiro, bom dia.
meu amigo, vou ler com calma e ver a fotos e vou me
perder nas lembranças de alter do chão onde o rio negro
e o rio amazonas também se dão um forte abraço. Saíndo
de Santarém (no baixo amazonas) quem vai de santarem para aveiros,
monte alegre, também encontra essa maravilha como você de deus.
muita paz, nessa imensa vontade de voar.
everardo
caro amigo altamiro…muito bom o texto e as fotos sensacionais..o encontro das aguas é realmente indescritível….. surpreendente as fotos da aldeia….. me faz refletir sobre o quanto nao conheço (e tb os nossos orgaos indigenistas) nao conhecem ou fazem que nao conhecem) da diversidade das condicoes (de saude, de ambiente, de vida etc…)dos povos indigenas brasileiros…..fiquei realmente impressionado com as fotos dos mercados, restaurante…. e da oficina chega a ser surreal (nao que nao posso existir uma oficina neste lugar…mas pelo lugar em si no meio do nada…..).
um grande abraço e parabéns pelo trabalho…
galego
Altamiro,
Que coisa legal, é daqui das minhas bandas !!!
Sim ! Mas, e o livro, pensa que esqueci ? Não ! Não ! Promessa é dívida.
Abração
Edna
Menino…
Dois pensamentos rápidos…
1) O encontro das águas me passa a percepção dos encontros que temos com amigos… nos misturamos, mas sem perder nossas identidades
2) Altamiro está se transformando em algo muito maior, mais complexo e ao mesmo tempo simples… direto, divulgador, compatilhador, humano
Já pensou nisso ?
Abração !
Jorge Pinheiro